segunda-feira, 26 de julho de 2010

A cultura do algodoeiro atravessou grandes dificuldades na década de 80. Entre estas podem se destacar a chegada ao Brasil da praga do bicudo, responsável por sérios prejuízos à cultura, e os incentivos oferecidos para compra de algodão importado que fizeram a demanda interna do produto pela indústria têxtil nacional, entrar em franco declínio.


Essas dificuldades resultaram na queda substancial da produção no Nordeste Brasileiro, em função da baixa adoção de tecnologias que impossibilitava a convivência adequa
da com a praga do bicudo e da baixa competitividade do produto local com o importado, em razão da sua qualidade extrínseca e da escala de comercialização. O revés da cultura do algodoeiro também foi verificado nas demais áreas tradicionalmente produtoras de São Paulo e Paraná. Este último estado viu sua área plantada cair de cerca de 700 mil hectares no início da década de 90 para menos de 40.000 hectares em 2001.


Como alternativa para rotação com a soja, os produtores do Centro-Oeste viram no algodão uma grande oportunidade de negócios. A segunda metade da década de 90 significou um marco na migração da cultura do algodoeiro, das áreas tradicionalmente produtoras para o cerrado brasileiro. Hoje esta região responde por 84% da produção brasileira de algodão, tendo o estado de Mato Grosso como maior produtor brasileiro. O sucesso da cultura do algodoeiro no cerrado tem sido impulsionado pelas condições de clima favorável, terras planas, que permitem mecanização total da lavoura, programas de incentivo à cultura implementada pelos estados da região e, sobretudo, o uso intensivo de tecnologias modernas. Este último aspecto tem feito com que o cerrado brasileiro detenha as mais altas produtividades na cultura do algodoeiro no Brasil e no mundo, em áreas não irrigadas. A Embrapa vem participando decisivamente da aventura do algodão no cerrado através da geração e transferência de tecnologias. A cada ano, vêm sendo lançadas pelo menos duas novas cultivares e sendo desenvolvidos novos sistemas de produção e de manejo integrado de pragas e doenças, visando atender a uma demanda crescente por novas tecnologias.


O presente sistema de produção de algodoeiro no cerrado que a Embrapa está disponibilizando, resulta da necessidade dos clientes, de acesso imediato a informações precisas sobre temas que envolvem toda a cadeia produtiva do algodoeiro no cerrado. Constitui-se em uma contribuição a mais e espera-se que seja de grande utilidade para o desenvolvimento da cultura do algodoeiro nesta região de grande importância para o agronegócio brasileiro.

O ALGODÃO

O algodão provém de uma planta denominada algodoeiro. Conforme a variedade, pode ser uma árvore ou um arbusto, com folhas alternadas e que dão flores amarelas ou vermelhas. A qualidade do algodão varia de acordo com o tipo de algodoeiro, pois umas variedades fornecem fibras mais compridas que outras.

No Brasil, o algodão é colhido entre maio e junho, quando os frutos amadurecem e as cápsulas que envolvem as sementes se abrem, podendo então ser colhida a matéria fibrosa constituída de pelos, que revestem as sementes e que se denomina capulho.

Flor do algodão

Fruto do algodão


Algodão colhido


Colheita de algodão

Estas fibras brutas passam por uma série de operações preparatórias, antes de serem transformada em fios.Resumidamente, são as seguintes:

1. - Limpeza manual, com a retirada de matérias estranhas.

2. - Descaroçamento, que é a retirada das sementes, com auxílio de um aparelho movido por manivelas, denominado descaroçador.

descaroçador

Descaroçador de algodão

3. - Batimento,feito com um galho de árvore, retesado em forma de arco, denominado batedor, onde se processa a retirada de impurezas menores, e é feito o primeiro desbaraçamento das fibras.

batedor

Batedor de algodão

4. - Cardamento, que é o processo final de desembaraçamento das fibras, que pode ser feito com um par de "cardas" , ( mesmo equipamento utilizado com a lã ), ou também com um arco tensionado semelhante ao batedor.

cardas

Par de cardas


Algodão pronto para ser fiado

5. - Fiação, que é a operação final para a obtenção do fio. Pode ser feita por uma peça simples em forma de pião, denominado fuso, ou através de um equipamento movido a pedal, denominado roca. O processo é idêntico para a lã.

Fiando algodão

fiandeira

Fios de algodão

As grandes indústrias possuem maquinários que realizam estas mesmas etapas, com velocidades maiores, incluindo ainda o tingimento das fibras. Várias são as opções de fios e linhas que podemos utilizar na tecelagem manual.

O quadro abaixo apresenta produtos fabricados por Linhas Círculo, com uma sugestão para sua utilização na urdidura ou na trama.

Descrição

As fibras são colhidas manualmente ou com a ajuda de máquinas. Sendo que a forma manual de coleta é feita normalmente nos arbórea e traz um produto muito mais livre de impurezas. De uma forma ou de outra, as fibras sempre contêm pequenas sementes negras e triangulares que precisam ser extraídas antes do processamento das fibras. As fibras são, de facto, pêlos originados da superfície das próprias sementes. Estas sementes ainda são aproveitadas na obtenção de um óleo comestível.

Nos primeiros 28 dias após a abertura da flor, as referidas células crescem rapidamente em comprimento, até 91% do comprimento final. Em seguida, o crescimento dos 9% finais torna-se lento e estabiliza-se em torno dos 47-51 dias do florescimento. Aos 21 dias, a parede da célula se resume, basicamente, em cutícula e camada, fina, de celulose.

Fase de deposição de celulose

De 21 até os 52-56 dias após a abertura da flor, a deposição de celulose é intensa (96%), com o consequente engrossamento da parede secundária por camadas concêntricas sucessivas de material depositado, de fora para dentro da fibra. A deposição dos 4% finais é de forma lenta e se estabiliza aos 61-64 dias do florescimento. A temperatura e a luminosidade influem decisivamente na quantidade de celulose depositada, que se associa ao grau de maturação da fibra de algodão. Esse comportamento é mostrado na fase de deposição de celulose na fibra.

Fase de abertura dos frutos (maçãs)

Aspecto do fruto antes e depois da abertura.

Nos últimos 8-9 dias antes da abertura das maçãs, a deposição de celulose é mais lenta.

A expansão da massa de fibras, aliada ao aumento da pressão interna, e o processo de desidratação gradual da casca da maçã provocam a sua própria abertura, que passa a ser denominada de capulho ou pulhoca.

Capulho de algodão aberto (fibra madura)

Com a abertura dos frutos ocorre perda de água com grande rapidez, provocando a contração das fibras sobre si. Há colapso da forma tubular, com achatamento das fibras que assumem, na sua seção transversal, a forma característica de grão de feijão. Aparecem, ao longo das fibras achatadas, os pontos de reversão ora para um lado ora para o outro, conferindo-lhes a sua qualidade de fiabilidade.

Estrutura da fibra

Aparência de verniz. Contém cera, gomas, pectinas e óleos. A cera é responsável pelo controle da absorção de água.

Cutícula

É a parte mais externa da fibra e constitui uma camada de proteção, fina e resistente, com pela fibra. É a camada situada logo abaixo da cutícula.

Parede primária

É constituída por celulose, na forma de fibrilas microscópicas dispostas transversalmente em relação ao comprimento da fibra, em espirais Dextro ou levógiras. Numa mesma fibra, o sentido das espirais não muda. A formação da parede primária determina o comprimento da fibra. Essa parede contém outras substâncias também, como açucares, pectinas e proteínas.

Parede secundária

A parede secundária localiza-se abaixo da parede primária, representando a maior parte da espessura desta. É constituída de várias camadas concêntricas de celulose quase pura, na forma de fibrilas cristalinas aglomeradas em espirais, cujo sentido muda ao longo de uma mesma fibra. Da sua natureza dependem fundamentalmente a resistência e a maturidade da fibra.

Lume ou lumem

É o canal central da fibra. De seção circular durante a formação desta, passa a ter contorno irregular após o processo de desidratação (colapso). Contém resíduo protéico do protoplasma da célula que originou a fibra. A fibra madura apresenta paredes relativamente espessas, com menos torções e lume reduzido, ao passo que fibras imaturas são mais achatadas, contorcida, com paredes delgadas lume amplo.

Composição química

O principal componente da fibra de algodão é a celulose, que representa a maior parte da sua composição química. A cadeia de celulose é constituída por moléculas de glicose. A disposição destas moléculas na cadeia é denominada de celulose amorfa e cristalina, e tem importante papel nas características das fibras. Depois da celulose, a cera constitui-se de grande importância na fibra de algodão. É responsável pelo controle de absorção de água pela fibra e funciona como lubrificante entre as fibras durante os processos de estiragem na fiação.

Composição química aproximada da fibra de algodão, determinada em vase seca:

  • Celulose.................................94,0 %
  • Proteínas..................................1,3 %
  • Cinzas.......................................1,2 %
  • Substâncias pécticas...............0,9 %
  • Ácidos málicos, cítrico, etc....0,8 %
  • Cera..........................................0,6 %
  • Açúcares totais.......................0,3 %
  • Não dosados...........................0,9 %
  • TOTAL.....................................100 %

Fibra do algodão e o meio ambiente

Fibra de algodão, cerca de três meses para se decompor no meio ambiente.

A fibra do algodão não traz fortes impactos se descartada indevidamente no meio ambiente, uma vez que seu material é orgânico, e leva cerca de três meses apenas para se decompor completamente. Por outro lado, é um material de dificuldade moderada para reciclagem, não existem grandes necessidades e tecnologias de fácil acesso para reciclar esse material. Seu impacto pode se maior durante sua cultura se feito incorretamente, pois é necessário grande espaço de terrenos para sua agricultura, e são utilizados diversos tipos de vermífugos, adubo químico, inseticidas entre outros agrotóxicos.[1]

Propriedades físicas e valor do algodão no mercado

Plantação de algodão.

As propriedades físicas da fibra determinam a sua qualidade ou valor tecnológico. No entanto, o conceito de qualidade do algodão sofreu modificações no passado em função das determinações tecnológicas comumente realizadas.

Antigamente o valor do algodão era considerado apenas em função do comprimento da fibra e do tipo comercial, sendo o primeiro determinado manualmente pelos classificadores e o segundo, visualmente, em função da limpeza, aparência, cor e aspectos de beneficiamento.

A pesquisa tem revelado a importância de outras características físicas, utilizando aparelhos adequados, cuja evolução foi rápida nas últimas décadas. Hoje em dia, a maioria das indústrias já leva em consideração o Índice Micronaire, a tenacidade da fibra e a maturidade na avaliação da matéria-prima.O teste considerado padrão nos dias de hoje, para aferir as qualidades da fibra chama-se HVI (High Volume Instrument). A classificação visual também é muito utilizada ainda.

Os problemas causados pela infestação da praga do bicudo-do-algodoeiro, aliado ao forte movimento de abertura da economia brasileira no início dos anos 90, provocou uma forte retração na produção doméstica e permitiu a entrada de importações subsidiadas. Em 1986, a tarifa de importação de algodão em pluma praticada pelo Brasil era de 55%, sendo reduzida paulatinamente até ser zerada em 1993, taxa que também passou a valer em definitivo para os parceiros do Mercosul.

As importações de produtos altamente subsidiados nos países de origem contavam ainda com prazos de pagamento de até 360 dias e juros muito menores que os disponíveis aos produtores nacionais.

Após a reversão dos preços internacionais ocorrida no biênio 94/95 e a constatação do alto custo social decorrente do desemprego de milhares de famílias no norte do Paraná, que tinham no algodão uma das poucas alternativas para a pequena escala de produção de suas propriedades, o Governo brasileiro resolveu implementar medidas de apoio à cotonicultura nacional, elevando o preço mínimo, cobrindo 100% do VBC nos empréstimos oficiais e garantindo a elevação da alíquota de importação para produto de países de fora do Mercosul, em 1% ao ano, entre 1996 e 2000.

Por enquanto, essas medidas não foram suficientes para criar condições de competitividade em relação ao algodão importado. Espera-se, portanto, que novas medidas de caráter protecionista, como a obrigatoriedade de pagamento à vista das importações, sejam implementadas em breve.

Entretanto, aspectos tecnológicos, como o comprimento de fibra requerido pelo parque têxtil nacional e ainda não atendidos pelo setor produtivo local, aliados à crescente disponibilidade de algodão na Argentina e à rápida evolução técnica dessa lavoura no Paraguai, devem determinar a continuidade da participação das importações de algodão em pluma do Mercosul por muitos anos.

A maior proteção decorrente de uma política comercial mais agressiva por parte do Brasil, o crescimento do consumo puxado pela renda, a adaptação de variedades mais produtivas e com maior aceitação comercial e o fato de o algodão ser uma boa alternativa de rotação de cultura com soja e milho devem, em conjunto, contribuir para um crescimento da produção brasileira nos próximos anos, permitindo uma colheita de 1,8 milhão de toneladas de algodão em caroço no ano 2000, conforme ilustra a tabela anexa.